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segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Segunda letra - por Giovanna Guterres

Algumas pessoas acomodam-se a fazerem os mesmos trajetos todos os dias; lidarem com os mesmos amigos de anos, e mesmo incomodadas com a rotina, criam hábitos os quais não conseguem modificá-los. Pessoas que gostariam de mudar, mas acham que não são capazes. Algumas dessas pessoas agem assim devido à traumas causados pela educação que receberam e não conseguem se libertar dos entraves que lhes colocaram na cabeça. Elas são prejudicadas no amor, na vida profissional e em sua maioria sentem-se solitárias e vazias.

Assim é a vida de Ed Kennedy até que um dia em um assalto a banco sua vida muda radicalmente. Este livro começa em tom de comédia, transforma-se em suspense e passa para o mistério. A dinâmica com que o autor desenvolve a história vai deixando o leitor cada vez mais curioso e cúmplice de Ed Kennedy nas aventuras e perigos as quais ele terá que enfrentar para desvendar e cumprir tarefas que lhe são atribuídas através de mensagens por escrito em cartas de baralho (seu jogo preferido). Muitas vezes arriscando sua própria vida e sua integridade física, ele conquistou novos amigos, adquiriu novos hábitos e criou forças para lutar pelo amor e pela felicidade dele e de pessoas que ele jamais enxergaria em outras circunstâncias.

EU SOU O MENSAGEIRO, escrito pelo mesmo autor de A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, Markus Zusak demonstra a competência de um cara jovem, apenas 35 anos, que nasceu para escrever. Uma marca registrada em seus livros é a sensibilidade e a ingenuidade a qual ele insere na personalidade dos seus personagens. Como leitora desses dois livros, senti uma certa melancolia por querer que a história se prolongasse por mais umas 300 páginas de tão íntima que me tornei deles.
EU SOU O MENSAGEIRO trata de uma temática totalmente diferente de A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, mas eu não saberia dizer qual dos dois seria o melhor. Os dois são livros valem a pena serem lidos.


EU SOU O MENSAGEIRO
ZUSAK, MARKUS
1ª Ed.
1975

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Teatro de Quinta - por Sidmar Gienette

Introduzindo Hakim Bey...


Há algum tempo atrás li o livro Caos – Terrorismo Poéticos e Outros Crimes. Nele, Hakim Bey (pseudônimo de alguém de quem esqueci o nome), não trata exatamente de teatro, mas lança propostas que me fizeram buscar diversão em apedrejar igrejas e vestir calcinhas nas estátuas. É dele a teoria de terrorismo poético que justificava esses atos. Mais do que isso, a leitura desse livro me levou a ter mais amor pela vida de modo geral, me inspirou num momento de vazio e esclareceu diversos pontos nas fronteiras inexistentes do universo da arte. Mais ainda que isso, foi nele em que eu encontrei a resposta para algumas certezas internas quais; a certeza de que o tipo de governo ideal para um estado de anarquia é a monarquia e; a crença de que toda arte visa ser poesia. Fora isso tudo, Bey, o qual considero o último visionário da arte libertária, lança conceitos práticos sobre arte-sabotagem, arte como crime e arte e feitiçaria, amor louco e anarquismo ontológico, entre tantas outras coisas na narrativa encantatória daquelas palavras. Aqui vou postando somente um trecho, o qual se aproxima um pouco do tema do teatro. Mas como “a arte morreu e o público desapareceu”, não temos a arte no seu sentido mercadológico, nem o teatro no seu sentido opulento de sala de espetáculos, mas no plano mítico de sua função no mundo, a da dança que anima o cosmos. O livro completo pode ser Ctrl-C + Ctrl-V pro seu editor de texto no site: CMI Brasil - Caos - Terrorismo Poético...


I. São do Apocalipse: “Teatro Secreto”

Conquanto nenhum Stalin fungue em nossos pescoços, por que não fazer alguma arte a serviço de...
uma insurreição? Não importa se é “impossível”. O que mais devemos aspirar atingir senão o “impossível”? Devemos esperar que outras pessoas revelem nossos verdadeiros desejos?
Se a arte morreu, ou o público desapareceu, então nos encontramos livres de dois pesos mortos. Em potencial, todos nós somos algum tipo de artista - & potencialmente todo público recuperou sua inocência, sua capacidade de tornar-se a arte que experiência.
Desde que possamos escapar dos museus que carregamos dentro de nós mesmos, desde que conseguimos parar de nos vender ingressos para as galerias que existem dentro de nossos próprios crânios, poderemos começar a contemplar uma arte que recrie o objetivo do feiticeiro: mudar a estrutura da realidade pela manipulação dos símbolos vivos (neste caso, as imagens que nos foram “dadas” pelos organizadores desse salão – assassinato, guerra, fome & ganância).
Podemos agora contemplar ações estéticas que possuam um pouco da ressonância do terrorismo (ou“crueldade”, como definiu Artaud) & cujo objetivo é destruir as abstrações em vez de destruir as pessoas, a libertação em vez do poder, o prazer em lugar do lucro, a alegria & não o medo.
“Terrorismo Poético.” As imagens que escolhemos têm a potência da escuridão – mas todas as imagens são máscaras, & por trás dessas máscaras existem energias que podemos direcionar para a luz & o prazer. Por exemplo, o homem que inventou o aikido era um samurai que se tornou pacifista & se recusou a lutar pelo imperialismo japonês. Ele acabou virando um eremita, vivia numa montanha sentado sob uma árvore. Um dia, um ex-colega samurai foi visitá-lo & acusou-o de traição, covardia etc. O eremita não disse nada, apenas continuou sentado - & então o soldado, irado, puxou sua espada & atacou-o. Espontaneamente, o mestre desarmado tomou a espada do soldado & devolveu-a em seguida. Várias vezes o soldado tentou matá-lo, usando todos os golpes mais sutis de seu repertório – mas a partir de sua mente vazia o eremita inventava, todas as vezes, novas maneiras de desramá-lo. O soldado, é claro, tornou-se seu primeiro discípulo. Mais tarde, eles aprenderam a esquivar-se de balas.
Podemos contemplar alguma forma de metadrama criado para capturar um pouco do sabor dessa
atuação, que deu origem a uma arte totalmente nova, um modo totalmente não violento de luta – guerra sem assassinato – “a espada da vida”, & não a da morte.
Uma conspiração de artistas, anônima como qualquer bombardeador maluco, mas voltada para um ato de generosidade gratuita no lugar da violência – para o milênio em vez de para o apocalipse – ou, ainda, dedicado ao momento. A arte conta maravilhosas mentiras que se tornam realidade. É possível criar um TEATRO SECRETO onde o artista quanto a audiência desaparecem completamente – apenas para reaparecer em outro plano, onde a vida & a arte se tornam a mesma coisa, puro oferecimento das dádivas?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Curta no Quarto - por Alex Guterres

Hoje em cartaz: Mauro Shampoo - Jogador, Cabelereiro e Homem

Mauro Shampoo, cabelereiro e ex-jogador de futebol, ficou famoso por jogar no Ibis Sport Club conhecido como o Pior Time de Futebol do Mundo.
O filme mostrar a inacreditável odisséia do pior time do mundo e de seu maior craque: um cabeleireiro. Conheça o homem que tem um coração de ouro, uma tesoura de aço e uma perna de pau!
Uma rara oportunidade de ver o Santa cruz goleando de 10 x 0.


Gênero:Documentário
Ano:2005
Duração:20 min
Cor:Colorido
Bitola:Vídeo
País:Brasil
Local de Produção: RJ
Diretor:Leonardo Cunha Lima, Paulo Henrique Fontenelle

terça-feira, 8 de junho de 2010

Música antes da Quarta - por Zeca Viana

Zeca Viana entrevista Arnaldo Baptista.


Tive a rara oportunidade de trocar uma breve idéia com o Arnaldo Baptista, conhecido como "O Mutante que cuspiu na cara da morte". A priori quis direcionar essa entrevista para os fãs da comunidade no Orkut, mas acho que ela deve ser direcionada para todos que admiram sua obra, assim como eu.

Gostaria muito de agradecer ao Arnaldo e a Lucinha, muita luz e paz.

Ah, sim, existem desenhos do Arnaldo sendo vendidos na loja do site: http://www.arnaldobaptista.com.br/loja.htm

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Zeca: Como você relaciona amor, arte e vida na sua obra?

Arnaldo: Verdade; alcance e desafios.


Zeca: O que você pensa sobre religião?

Arnaldo: Exoterismo originou-se de êxodo (para fora). Adoração dos Deuses. Portanto prefiro o Endoterismo; Endo é interior, de dentro para fora.


Zeca: A gente bem sabe como é difícil viver de arte no Brasil. Mas na verdade, talvez a arte fosse uma boa saída para as diferenças sociais...

Arnaldo: É a parte na qual a arte vira uma filosofia (Panis et Circencis); então os artistas são políticos (Proibido Proibir). Seria possível com líderes psicodélicos: (P. D. A. Partido Democrata Ateu). UTOPIA.


Zeca: Emergindo da ciência: isso me lembra seu livro de ficção "Rebelde Entre os Rebeldes", como você pensa no conhecimento científico...

Arnaldo: Penso no conhecimento científico, no quanto ele deveria combater o fôgo e direcionar-se à ultrapassar a velocidade da luz e para fazer uma humanidade mais feliz.

Zeca: O filme Loki é muito sincero, causa uma grande comoção, como você vê os planos presentes e os futuros no seu trabalho?

Arnaldo: Concentrarei-me em fazer shows com os equipamentos que gosto: instrumentos Gibson e amplificadores valvulados. E trabalhar com empresários de verdade, para não acontecer igual à (revira)volta dos Mutantes.

Zeca: Gostaria de te agradecer por essa breve conversa, fique a vontade...

Arnaldo: Privacidade suficiente, felicidade somente.

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Mais sobre Zeca Viana:
Alguns sons: www.myspace.com/zecaviana
Desenhos e fotos: www.flickr.com/photos/zecaviana
Vídeo-arte/clipe: www.youtube.com/zecavianatv
Blog: http://zeca-viana.blogspot.com/


segunda-feira, 7 de junho de 2010

A segunda letra - por Giovanna Guterres


A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, é um Romance publicado no Brasil em 2007 pela Editora Intrínseca. Este romance dito para jovens, escrito pelo Australiano Markus Zusak foi batizado como um “fenômeno literário”. Rico no que diz respeito às questões que tratam da segunda guerra, o autor não se prende apenas as tragédias daquela época. Há uma doçura na sua forma de escrever além de fornecer uma gama de detalhes daquele período tão conturbado da história mundial. Um excelente livro que prende do começo ao fim. O romancista é também autor de outro excelente livro intitulado “EU SOU O MENSAGEIRO”.


Alemanha, 1939, Hitler e seus discursos convincentes. Judeus sendo jogados para campos de concentração... E a Morte.
A morte de plantão. Ela neste romance é a que fala conosco, é a que narra os acontecimentos e se lamenta de seu destino, de seu trabalho árduo em ter que carregar tantas almas. A Morte: A vilã que alivia as dores de corpos doloridos, mentes desiludidas e estômagos vazios.
Em todo esse contexto de guerra, bombas, céu escuro, neve e muita fome uma menina sonha, ama e sorri. Liesel Memimger. Ela também tem cicatrizes da guerra. A falta da mãe e a morte do irmão. Mas há um sonho. O sonho de descobrir através das palavras um novo mundo. Um mundo onde a guerra não pode roubar-lhe a alegria. Um mundo apaixonante que a faz encontrar a verdadeira razão de viver e de dividir seus encantos com os que já estão massacrados pela dor, pelo medo e pelas perdas ocasionadas pela guerra. Os livros roubados por Liesel Memimger.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sexta Cênica - Por Gilberto Trindade

O CIRCO TRANSFORMA!?

Posso perguntar e ao mesmo tempo afirmar ou afirmar e perguntar, o quanto nossos desejos, paixões, manias, dúvidas... Transcendem ao que vemos, ouvimos, sentimos, cheiramos e se aglutinarmos a cultura, a psicologia, o meio, a energia...

O artista e sua gama de saberes quando realiza suas proezas, encanta o público instantaneamente e leva-os também aos sonhos durante noites e anos.

No filme de 1967, As Sete Faces do Dr. Laó temos como exemplo da pergunta e resposta. A ficção se passa numa pequena cidade do Velho Oeste, e tem como conflito um grande fazendeiro tentando comprar toda a cidade sabendo que passará uma estrada de ferro dando-lhe muito lucro, neste ensejo chega à cidade um oriental, magrinho, com bigodes, barbas brancas e trajes típicos, em um pequeno jumento e um aquário na promessa de levar em sua empanada, diversão para todos daquela pequena comunidade.

O pequeno oriental observa o comportamento de todos num fórum de negociação para a venda das casas, à medida que prega seu cartaz nos principais pontos da cidade, mostrando todo seu repertório de atrações. Chegada a noite da estréia, com muitos fogos jogados ao céu como pedras pelo próprio oriental, os moradores chegam em seus cavalos, charretes, a pé e de carro, consumindo pipoca, refrigerantes, balas e balões.

Depois de saudar a todos, cada cidadão (que tem características estereotipadas) se encaminha para as tendas que a princípio se identificavam, (pois no circo do Dr. Laó existem tendas temáticas). A primeira a entrar na tenda de vidência é a solteirona e fofoqueira, também a mais rechonchuda, muito empolgada senta à mesa, paga logo a gorjeta e pergunta se um antigo namorado vai voltar para o casamento (falando sem parar e já convicta da resposta). Com muita calma o oráculo responde que ela terminará os dias só, sem namorados e filhos, sua reação é de repugnação, xingando-o, de charlatão, quando esta sai do recinto, Dr. Laó caminha para outra tenda.

A viúva, jovem e bonita mãe de um pequeno menino, trancou-se para o mundo depois da morte do marido, é assediada pelo jornalista da cidade, (do qual é o antagonista do fazendeiro sempre criticando-o em seu jornal, sendo perseguido por este). Sua própria sogra (residente na mesma casa), aconselha-a a casar-se com ele. Na frente da tenda tem uma placa, Deus Pan, coberta, quando a moça entra, a placa é descoberta. Num jardim começa a soar uma melodia, entre as plantas uma figura mitológica tocando flauta (metade gente da cintura para cima com chifres e carneiro para baixo), a música muda de ritmo, a figura circula em seu entorno rápido como a música, a viúva começa a suar, retira a gola do pescoço e quando o flautim se coloca cara a cara, ela vê o rosto do jornalista que a beija, esta sai correndo atordoada, Dr. Laó ainda com a flauta na mão vai para a outra tenda.

O fazendeiro dono da cidade entra na tenda da grande serpente que se assemelha muito com ele, os dois se olham e começa um diálogo tosco, onde a imagem do dono da cidade é denegrida pelo animal, olhando dos lados para ver se alguém escuta todos os adjetivos ditos, os dois dividem cumplicidades, inclusive a serpente fuma o charuto do fazendeiro, este se vê envolvido pelo animal e pede socorro aos seus capangas que tentam atirar no animal e o patrão pede que não a machuque. O dono da cidade e a serpente ficam desconfiados e seguem seus caminhos.

A medusa olha sob um espelho (uma bela mulher com seus cabelos em forma de cobra) a todos que lhe observam, sob a narração do Dr. Laó, descreve-se que ao olhar para este ser de frente, torna-se pedra. Duvidando disto e maltratando seu marido, prática constante, a senhora mais mau humorada da cidade se põe de frente a mulher dos cabelos de cobra, imediatamente seu corpo torna-se pedra, apesar do espanto de todos, há uma acomodação dos espectadores que partem para outro local de visita, só quem se compadece é o marido que fica a lamentar e pedir ajuda.

No pequeno palco à italiana, com direito a cortina vermelha, Dr. Laó apresenta o grande mágico Merlim de muitas centenas de anos. O velho mágico apresenta alguns truques que não agradam muito a sua platéia a não ser o menino, filho da viúva, que se diverte muito, o bêbado (como em toda a cidade não pode faltar) pede que saia um coelho da cartola, Merlim, até por uma caduquice, tira outros objetos, o público se afasta indignado, o menino fica a consolar o mágico. O marido da senhora antipática pede ajuda a Merlim que a faz voltar ao seu estado normal, detalhe, ela volta mais amável para os braços dele.

A noite de atrações acaba, não sem antes o abominável homem das cavernas circular pelo público, causando espanto e medo. No dia seguinte como despedida da estada da empanada de Dr. Laó, é exibida uma projeção melodramática em que os personagens são bem parecidos com os da cidade, inclusive o cínico (vilão) está querendo expulsar a todos para ganhar dinheiro. A platéia fica atenta à situação real que a cidade passa, terminado o filme a trupe de Dr. Laó se despede com um desfile de todos os artistas na arena principal.

Na madrugada os capangas do fazendeiro tomam uma grande quantidade de uísque e vão fazer arruaça na empanada do velho oriental. Um deles dá um tiro no aquário, o peixe cai no chão e começa a transformar-se num enorme monstro, com sete pescoços e cabeças. Os capangas atiram contra ele, o que é inútil, tentar matar um animal daquele tamanho com revólver, saem correndo, depois de bordoadas do animal. Dr. Laó sai do seu trailer, depois que o menino (filho da viúva) vai chamá-lo, com muita luta o Dr. acha a máquina de fazer chuver, coisa que há anos não acontecia na cidade, o mostro começa a diminuir, não sem antes nas suas sete cabeças aparecer sete faces do Dr. Laó que são os integrandes do circo do velho oriental.

O menino pede para seguir viagem com Dr. Laó, este poeticamente, alerta que a vida é um grande circo e o menino crescerá nesse picadeiro trazendo a pureza e alegria para a perpetuação deste espetáculo, onde tudo é uma hipérbole como a vida (nossas vidas), num jogo de verdade e mentira, ilusão, jogo de espelhos.

Dr. Laó segue o caminho dos cannion desérticos americanos em seu jumento, com aquário e peixinho, a cidade e seus habitantes vão ficando para trás, mas sem dúvida não mais como os de outrora.

Obs: Qualquer semelhança com alguém ou algum fato da vida real é mera coincidência.

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(Gilberto Trindade – Sociólogo pela Universidade Católica de Pernambuco, Pós Graduado em História da Arte e Religião, Pesquisador, Ator/Circense)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Curta no Quarto - por Alex Guterres

Hoje em cartaz: Bala Perdida

Cinco balas. Cinco pontos de vista deferentes sobre o mesmo momento. Bala perdida, do diretor carioca Victor Lopes é um belo exemplo de como usar o som no cinema pra situar o espectador na trama. O filme se destaca também pelo ótimo roteiro e pelo elenco, repleto de caras conhecidas dos noveleiros de plantão.

Cuidado com o tiro!



Bala Perdida


Gênero: Ficção
Diretor: Victor Lopes
Ano: 2003
Duração: 14 min
Cor: Colorido
Bitola: 35mm
País: Brasil
Local de Produção: RJ

terça-feira, 1 de junho de 2010

Música antes da Quarta - por Anna Andrade

Tudo bem. Não causam a mesma histeria. Não possuem a mesma popularidade, nem o mesmo apelo pop e nem a mesma atenção da mídia de massa. E não é neste ponto mesmo que reside a comparação. Assim, se há alguma banda neste mundo que contribui tanto para a Música quanto os Beatles um dia contribuíram, esta é o Radiohead.

E não é preciso falar o quanto os tempos são diferentes. Hoje, diante do acesso à infinidade de profusões culturais mundo afora, o meio se torna cada vez mais competitivo. É cada vez mais difícil chamar a atenção, se destacar, mesmo onde se produza mais novidade. Hoje, uma boa novidade de talento pode não sobreviver, simplesmente pela dificuldade de se estabelecer em terreno tão fértil, do qual brotam novos semi-deuses a cada esquina. Cada novo lançamento é uma nova promessa. E o que chamo de lançamento não é mais um grupo engomadinho impulsionado por qualquer gravadora, mas, por exemplo, uma jóia que se ache nos garimpos no mundo do MP3.

A mídia atual é tão volátil quanto o surgimento dessas novidades, e confirmar talento, fôlego e reinvenção em tempos como estes é tarefa nunca antes enfrentada. E isso o Radiohead vem fazendo com louvor. A cada novo passo na carreira, surpresas. Eles vêm confirmando as profecias que sempre os acompanharam. Seja revolucionando o modo como um artista consagrado disponibiliza novos trabalhos, seja mostrando que o palco é o melhor lugar para materializar a Arte sonora, o Radiohead se impõe como pioneiro. De minha leiga opinião, creio que existe uma coisa muito importante no meio musical: a moral do artista. Hoje, tal palavra está banalizada. Qualquer sucesso radiofônico que se repita 300 vezes ao dia pode ser taxado como proveniente de um artista. A qualidade não é tão relevante e o consumo, como todo bom mercado capitalista, dita as regras. A mídia musical tornou-se uma fornalha de talentos vendáveis, de marcas que pulam dentro de estilos caricatos e geram riqueza.

Viver de música em tal celeiro é uma tarefa árdua. A não ser que se conquiste a moral. Onde quer que vá, o Radiohead leva consigo o rótulo justíssimo de talento proveniente do esforço artístico, e não apenas como um mero fenômeno de mercado. A banda parece ter noção exata do que representa para o cenário musical do MUNDO (!) e da legião de admiradores e reconhecedores de seu trabalho nos diversos meios: fãs, jornalistas, críticos musicais, admiradores da boa música, etc.

Ademais, o Radiohead vence quaisquer tentativa de encaixe de segmento. É rock demais para o eletrônico; Pop demais para o Rock; Indie demais para o Pop, e por aí vai. Radiohead, assim como Beatles, reinventou uma nova classificação. Não se qualifica perfeitamente em nenhuma prateleira; trafega pelas prateleiras a cada album, a cada faixa. Album: Radiohead parece conhecer por inteiro o que significa tal palavra. Algo com início, meio e fim, como qualquer obra de Arte, dotada de um significado que por menos uniformidade que possua, confira a possibilidade de se extrair algum entendimento.

Trata-se de uma banda 'sui generis', distante de qualquer imitação, acima de qualquer crítica pejorativa. Radiohead, assim como os Beatles, tem MORAL. Uma banda que traz em seu nome um selo de qualidade, fazendo de suas músicas hinos exemplares de trabalho a ficar para a posteridade. A música que deles hoje escuto ecoará nos ouvidos de incontáveis gerações futuras, não tenho dúvidas. E seu trabalho já está sedimentado como um dos mais notáveis desta breve História da Humanidade.

*Se John Lennon ainda fosse vivo, talvez ele olhasse para Tom Yorke sem precisar pedir que ele se levante.*

E se o mundo, hoje, tivesse apenas um rádio, este tocaria Radiohead.

Anna Andrade
@annaandrade