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segunda-feira, 12 de julho de 2010

A segunda letra - por Giovanna Guterres

SEDA, de Alessandro Baricco, conta as aventuras de Hervé Joncour, ex-militar que se tornou contrabandista a serviço dos donos de empresas de fiação. Em meados do século XIX, Hervé Joncour faz viagens quase impensáveis para a época. São quatro viagens de Lavilledieu, França, até o Japão com percursos que inclui uma longa travessia por solo siberiano e viagens em navios de contrabandistas holandeses, em busca de negociar ovos do bicho-da-seda. Inicialmente a motivação pelas expedições é um discreto, mas presente gosto por aventuras. Joncour leva ouro e traz os ovos a tempo de, saudáveis, gerarem o produto natural que permitirá à indústria do lugar a produção e a riqueza. Quem sofre com suas viagens é sua esposa Hélene. A partir da primeira expedição é perceptível as mudanças no comportamento de Joncour que encontrou no Oriente não apenas os ovos-da-seda, mas o mistério. Nesse sentido, os fragmentos que formam os capítulos registram menos fatos históricos do que imagens para Joncour: o “fim do mundo”, definido por ele como “invisível”, pássaros que remetem a sentimentos represados, cores “mais leve que o nada”, ideogramas que são como “cinzas de uma voz queimada”, um poderoso japonês que vive numa “bolha de vazio” e a misteriosa menina de olhos ocidentais que ele consegue apenas o toque dela com seda, e bilhetes, que só pode traduzir na volta, meses depois, além de uma longa e linda carta. Ele vai ao Japão porque precisa rever as misteriosas feições da menina e volta porque se sente atraído pela saudade da bela voz de sua mulher Hélene.

SEDA, é considerado o maior sucesso editorial do autor; a narrativa desliza com o olhar do protagonista. O texto é preciso, quase cede à poesia. Baricco dispensa o diálogo, esta história ainda que feita de muitas vozes, funciona, não como um monólogo, mas como a soma de vários deles. Indo da primeira a terceira pessoa, o romancista sai de um território onírico de vozes quase fantasmagóricas.

SEDA
BARICCO, ALESSANDRO
COMPANHIA DAS LETRAS
119p.
2008

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