Recentemente, estamos vivendo um período turbulento em que o denuncismo barato grassa nos noticiários e jornais de grande circulação. É o que se chama de intervenção da imprensa marrom, uma forma de se chamar os órgãos de imprensa considerados publicamente como sensacionalistas e que buscam audiência e aumento nas vendas, através da divulgação exagerada de fatos e acontecimentos. Em todos os casos há uma considerável transgressão da ética jornalística. Entretanto, estas citações sempre teriam como motivo a ideologia política daquele que cita, de acordo com a visão que este possui do mundo e da realidade em que vive. O fato é que, de modo frequente, determinados setores da imprensa, divulgam notícias amparados em suas editorias ou em suas próprias crenças políticas, econômicas ou sociais, tentando influenciar todo aquele que recebe a notícia no sentido de mostrar sua própria visão de mundo. Todavia, cabe a quem recebe a informação, consultar outras fontes para cientificar-se da realidade dos fatos e formar sua própria opinião. A prática de divulgação de informações e notícias segundo sua linha editorial não constitui, em si, um problema ético. Respeitados jornais do mundo fazem isso, porém sempre deixam claro suas posições ao leitor, de modo que o mesmo possa entender sob qual ótica a notícia está sendo dada. O noticiário marrom, se manifesta quando essa posição é omitida de propósito, e os fatos são distorcidos ou apenas parcialmente divulgados para induzir o leitor ao erro. O problema é que os recursos jornalísticos usados pela imprensa marrom, criam um ar de desconexão entre a responsabilidade dessas empresas com sua informação e a origem da informação. Contra a prática deste tipo de jornalismo, em determinados países, existe o recurso do processo judicial, onde aquele cujo direito foi ferido por informações falsas ou distorcidas obriga o órgão difamador a indenizar pelos prejuízos causados, seja de forma financeira ou fazendo uma retratação pública sobre o fato ocorrido. Infelizmente, aqui no Brasil, tal prática ainda não é exercida. Enquanto isso, o jornalismo marrom continua induzindo os leitores e telespectadores ao erro, deixando-os à mercê desses estelionatários da notícia.
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terça-feira, 28 de setembro de 2010
Coluna política - por Evandro Rocha
Recentemente, estamos vivendo um período turbulento em que o denuncismo barato grassa nos noticiários e jornais de grande circulação. É o que se chama de intervenção da imprensa marrom, uma forma de se chamar os órgãos de imprensa considerados publicamente como sensacionalistas e que buscam audiência e aumento nas vendas, através da divulgação exagerada de fatos e acontecimentos. Em todos os casos há uma considerável transgressão da ética jornalística. Entretanto, estas citações sempre teriam como motivo a ideologia política daquele que cita, de acordo com a visão que este possui do mundo e da realidade em que vive. O fato é que, de modo frequente, determinados setores da imprensa, divulgam notícias amparados em suas editorias ou em suas próprias crenças políticas, econômicas ou sociais, tentando influenciar todo aquele que recebe a notícia no sentido de mostrar sua própria visão de mundo. Todavia, cabe a quem recebe a informação, consultar outras fontes para cientificar-se da realidade dos fatos e formar sua própria opinião. A prática de divulgação de informações e notícias segundo sua linha editorial não constitui, em si, um problema ético. Respeitados jornais do mundo fazem isso, porém sempre deixam claro suas posições ao leitor, de modo que o mesmo possa entender sob qual ótica a notícia está sendo dada. O noticiário marrom, se manifesta quando essa posição é omitida de propósito, e os fatos são distorcidos ou apenas parcialmente divulgados para induzir o leitor ao erro. O problema é que os recursos jornalísticos usados pela imprensa marrom, criam um ar de desconexão entre a responsabilidade dessas empresas com sua informação e a origem da informação. Contra a prática deste tipo de jornalismo, em determinados países, existe o recurso do processo judicial, onde aquele cujo direito foi ferido por informações falsas ou distorcidas obriga o órgão difamador a indenizar pelos prejuízos causados, seja de forma financeira ou fazendo uma retratação pública sobre o fato ocorrido. Infelizmente, aqui no Brasil, tal prática ainda não é exercida. Enquanto isso, o jornalismo marrom continua induzindo os leitores e telespectadores ao erro, deixando-os à mercê desses estelionatários da notícia.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
In- margem n°3: Caapiuar Sushi
Lançamento da videoperformance Caapiuar-Sushi
Shows de Lula Côrtes, Bê Formiga e Bruno Negaum
Data: 17 de setembro de 2010 (sexta-feira)
Hora: 21h
Local: Espaço N.A.V.E. (Rua do Lima, 210)
Preço: R$ 10,00
Link do Vídeo Promocional:
sábado, 11 de setembro de 2010
Coluna política por Evandro Rocha
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Coluna política - por Evandro Rocha
Ele é considerado um dos maiores nomes da arquitetura moderna mundial. Suas obras estão em quase todas as partes do mundo e, além de belíssimas, desafiam a moderna engenharia.Oscar Niemeyer, ou simplesmente Oscar, como gosta de ser chamado, nasceu no Rio de Janeiro em 1907. Passou grande parte da sua juventude sem preocupações imediatas, e na boêmia. Em 1929, já casado, Oscar decide retornar aos estudos e, em 1934, forma-se em arquitetura e engenharia na Escola Nacional de Belas-Artes. Sempre idealista, apesar das dificuldades financeiras, decidiu romper com a arquitetura comercial e foi trabalhar sem remuneração no escritório do arquiteto Lúcio Costa. Ali, vislumbrou a oportunidade de praticar uma nova arquitetura. Foi o pioneiro na exploração das possibilidades construtivas no concreto armado. Em 1945, já um arquiteto de renome, conheceu Luís Carlos Prestes e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Emprestou a Prestes a casa que usava como escritório de projetos, para que este montasse o comitê do partido. Em 1946 seu nome já circulava internacionalmente, e Niemeyer é convidado a lecionar em uma universidade americana, porém, é impedido de atender ao convite, por ter o visto negado devido à sua posição política. Entretanto, em 1947, Niemeyer é indicado para fazer parte da equipe de arquitetos mundiais que viria a desenvolver a Sede das Nações Unidas. Niemeyer viaja aos Estados Unidos e apresenta o projeto que seria escolhido e elaborado conjuntamente com o arquiteto suíço Le Corbusier. Após um tempo trabalhando em São Paulo, onde fez importantes obras de destaque, dentre as quais: o Edifício COPAN, foi convidado pelo presidente Juscelino Kubitschek, para um projeto político ambicioso: mover a capital nacional para uma região no centro do país. Brasília foi um grande desafio, a cidade foi construída na velocidade de um mandato, e Niemeyer teve que planejar vários edifícios em pouquíssimo tempo. Entre os de maior destaque estão: o Palácio da Alvorada,o Edifício do Congresso Nacional, a Catedral de Brasília, os prédios dos ministérios, o Palácio do Planalto, além de prédios residenciais e comerciais. A nova cidade projetada, levou em conta o ideal socialista, onde as moradias pertenceriam ao governo e seriam utilizadas por todos. Nesta ótica, todos os funcionários, fossem serventes ou parlamentares, deveriam habitar os mesmos prédios. Após o golpe militar, em 1964, Niemeyer se auto-exilou na França.Voltou ao Brasil no começo dos anos 80, no início da abertura política, quando entrou em vigor a lei da anistia; ocasião em que encontrou o antropólogo Darcy Ribeiro, seu amigo, para juntos realizarem projetos educacionais e culturais. Projetou os CIEPs e o Sambódromo do Rio de Janeiro. A luta política é uma das questões que sempre marcaram a sua vida e obra. Visitou a ex-União Soviética, teve encontros com diversos líderes socialistas e foi amigo pessoal de alguns deles. Em 2007, presenteou Fidel Castro com uma escultura de caráter antiamericano: uma figura monstruosa ameaçando um homem que se defende empunhando uma bandeira de Cuba. Certa vez, afirmou:“Não me sinto importante. Arquitetura é meu jeito de expressar meus ideais: ser simples, criar um mundo igualitário para todos, olhar as pessoas com otimismo. Eu não quero nada além da felicidade geral”.Com estas palavras, Niemeyer demonstra que, à sua genialidade,vai muito além da sua belíssima arquitetura.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Coluna política - por Evandro Rocha
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Coluna política - por Evandro Rocha
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Coluna política - por Evandro Rocha
Para tristeza de muitos e alegria de seus simpatizantes, o ex-presidente cubano Fidel Castro reapareceu. Usando seu tradicional uniforme militar e, aparentemente bem disposto, o Comandante, como é conhecido, parece resistir ao tempo. Muitos achavam que ele estava morto ou aposentado. Prestes a completar 84 anos, Fidel é uma figura mítica na cena política mundial. Formado em Direito pela Universidade de Havana em 1949, começou sua carreira política se dedicando de modo especial à defesa dos opositores ao governo, trabalhadores e sindicatos. Denunciou as corrupções e atos ilegais do regime cubano na época. Entretanto, por sua postura em relação ao golpe de 1952, capitaneado por Fulgêncio Batista, Fidel foi a julgamento e assumiu sua própria defesa defendendo o direito dos povos de lutarem contra a tirania. Condenado a quinze anos de prisão, foi anistiado em 1955, graças a um amplo movimento popular. Decidiu se exilar no México, onde trabalhou na preparação dos homens que o acompanhariam em seu intento de iniciar a luta revolucionária em Cuba. Viajou aos Estados Unidos em busca de apoio dos cubanos residente neste país. Planejou a estratégia da luta contra a ditadura de Batista, financiada e apoiada pelos americanos e da ação das forças opositoras revolucionárias. Comandou diversos combates que culminaram em vitórias de suas tropas, orientou a criação de novas frentes de guerrilhas, trabalhou na preparação de leis fundamentais que deveriam promulgar-se uma vez alcançada a vitória. Partindo de Sierra Maestra, Fidel através do apoio incondicional da população cubana e depois de duros combates com o exército de Batista, desmontou o regime ditatorial e marchou até Havana. O Governo revolucionário instaurado o designou primeiramente Comandante em Chefe de todas as forças armadas, terrestres, aéreas e marítimas e depois, Primeiro Ministro. A ex-URSS deu apoio econômico e militar ao novo governo de Castro, comprando a maioria do açúcar cubano. A partir de então, Cuba passou a sofrer um embargo econômico por parte dos Estados Unidos, o que lhe trouxe sérios problemas de ordem interna. Desde os primeiros anos posteriores ao triunfo da Revolução, Fidel realizou medidas e atividades de grande relevância social para o desenvolvimento do país, como a nacionalização de empresas estrangeiras, a Reforma Urbana, o desenvolvimento da indústria nacional e a diversificação agrícola. A Campanha de Alfabetização (pioneira no mundo), a nacionalização e gratuidade do ensino em todos os níveis, a eliminação da saúde pública privada e do esporte profissional, a melhoria das condições de vida dos menos favorecidos. Hoje o povo cubano colhe os frutos destas medidas - tais como: o alto grau de escolaridade da população, uma das mais avançadas medicinas do mundo e transformou-se numa verdadeira potência olímpica. Durante sua estada no poder por mais de 50 anos, Fidel, sofreu vários atentados e tentativas de golpe. Resistiu bravamente a tudo. Foi acusado de cercear liberdades e exercer um regime ditatorial, contudo, a maioria dos cubanos o veneram e o chamam de herói. Na aparição da semana passada, ele conclamou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a evitar o risco de uma ameaça de guerra nuclear no mundo. Afirmou que, o americano é o único povo capaz de evitar esse risco. Em seguida, o ex-presidente afirmou que em caso de guerra, seria um desastre, que afetará não só uma centena de milhares de pessoas, como também um número incalculável de norte-americanos. O discurso foi o primeiro público de Fidel depois de quatro anos afastado do poder. Oficialmente, o ex-presidente cubano é segundo-secretário do Partido Comunista. Nos últimos meses, ele deixou a reclusão e tem participado de eventos sociais. Pelo aparente vigor, o velho comandante irá incomodar os que torcem pelo seu fim, por mais um bom tempo.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
A segunda letra - por Giovanna Guterres
Caio Fernando Abreu
Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé.
Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau;
Fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às regras lendas deste mês de cachorro louco.
É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data.
Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente.
Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos.
São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições.
Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade.
Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon.
Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente que isso também passará.
Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo.
Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós.
Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro, ou justamente, agosto.
Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos ou precauções – úteis a todos.
O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade...
Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Negritude exercida - Por Evandro Rocha
No dia 20 de julho, realizou-se no Recife, a plenária do Orçamento Participativo de negros e negras. O público presente escolheu, através de votação, as políticas públicas que serão implementadas a partir do ano que vem. Dentre as prioridades eleitas, as principais são: a realização de um curso sobre história da África e da cultura negra afro-brasileira para todos os funcionários da rede municipal de ensino, o fortalecimento da política municipal de promoção da igualdade racial e a garantia de segurança e estrutura na entrega de oferendas, em locais públicos, pelas religiões de matriz africana. Todavia, esta iniciativa é muito bem vinda, embora bastante tardia. Há tempos, a população negra clama por mais espaço na sociedade, pelo reconhecimento da suas origens e respeito aos seus cultos religiosos. Darcy Ribeiro, um dos maiores intelectuais que este país já produziu, afirma em seu livro: O povo brasileiro, que desde os primórdios da civilização brasileira, o negro teve um papel cultural mais passivo do que ativo, porém crucial. Tanto na mão-de-obra, como na mistura racial e cultural brasileira em suas cores mais fortes. De fato, das matrizes étnicas (europeia, indígena e africana) que moldaram o povo brasileiro, a mais oprimida foi a africana, pois os negros foram introduzidos na condição de escravos por pura falta de mão-de-obra, já que, a escravidão indígena não prosperou por causa de questões culturais. Esses fatores contribuíram para que os africanos fossem inseridos nas lavouras brasileiras, sendo obtida através do tráfico negreiro proveniente das colônias portuguesas na África. Antes disso, porém, transações envolvendo escravos africanos já ocorriam no Brasil, sendo a falta de mão-de-obra um dos principais argumentos dos produtores rurais. Capturados nas mais diversas situações, como nas guerras entre tribos rivais e na escravidão por dívidas, os escravos africanos vinham de lugares como Angola e Guiné. Eram negociados com os traficantes africanos (ironicamente, negros também) em troca de produtos como armas, fumo e as mais diversas espécies de quinquilharias e eram transportados em navios denominados negreiros. Durante as viagens, muitos escravos não sobreviviam em decorrência das péssimas condições sanitárias existentes no interior dos navios, que vinham abarrotados de gente. Quando chegavam em terras brasileiras, os escravos africanos eram negociados em praça pública. Os mais fortes e saudáveis tinha mais valor. O tráfico negreiro foi extremamente lucrativo e durou até o fim do século XIX. Nesse período houve muita pressão pela abolição da escravatura e o Brasil foi o último país a abolir o sistema escravista. Porém, o fim da escravidão, apesar de trazer a liberdade, não mudou em nada as condições sociais e econômicas dos negros, que continuaram a viver, de uma forma geral, em condições precárias, sem acesso a educação e sendo discriminados. Não impediu também que a exploração de mão-de-obra em regime de escravidão e o tráfico de pessoas continuassem sendo praticados até hoje. Diante dos fatos, nada mais justo que ações como as que estão sendo implementadas pela atual gestão do Orçamento Participativo da Prefeitura do Recife. Visando promover o direito dos negros de fazerem parte de uma nossa sociedade multicultural, multirracial e justa. Resgatando a sua cidadania perdida, protegendo seus cultos e liturgias, informando sobre sua origem e prioritariamente promovendo a tão sonhada igualdade racial.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Curta no Quarto - por Biagio Pecorelli
O universo onírico é mesmo um tema privilegiado na obra de Maya Deren (1917-1961). A cineasta ucraniana, radicada nos Estados Unidos, é uma referência incontornável na história do cinema experimental mundial e, especialmente, no chamado “trance film” (filmes experimentais que exploram personagens deambulando num espaço-tempo de sonho). Produziu entre os anos 40 e 50 obras primas que misturam cinema, dança e mise en scène ao sabor daquilo que já haviam apregoado as vanguardas artísticas do início do século, neste caso, com particular sintonia, o surrealismo.
A obra de Maya Ritual in Transfigured Time, de 1946, traz uma jovem (Rita Christiani) perplexa diante de pessoas, gestos e lugares que cruzam seu caminho sem razão aparente, como num sonho do qual não pode escapar. São homens e mulheres que trazem à protagonista e ao espectador um forte componente erótico, onde medo e desejo se confundem e atordoam a jovem, por vezes procurada, por outras ignorada, por fim perseguida. O tema da perseguição, aliás, é caro à obra de Maya e já aparece marcantemente no seu mais famoso filme Meshes of the Afternoon, de 1943, transparecendo algo no qual a psicanálise de Sigmund Freud fora contundente: a perseverança implacável dos conteúdos recalcados, dos traumas psíquicos vividos, que se manifestam exemplarmente nos enigmas do sonho.
Afora tudo isso, em seu permanente diálogo com a dança, Maya Deren dirige seus espectros de modo que seus gestos, em princípio cotidianos e naturalistas, tornem-se absurdamente cênicos, dançados, até perderem por completo a referência à realidade (mimesis). A protagonista é que parece se manter numa coerência gestual afetada, mera ponta do iceberg a qual Freud se referira como consciência, ou quem sabe metaforize a situação do próprio realismo e da arte mimética em meados do século XX, diante da repercussão das vanguardas. As dimensões temporal e espacial, tal como quando sonhamos, também são totalmente subvertidas por Maya, que faz (a despeito da precariedade dos recursos cinematográficos da época em relação ao que vivemos no cinema hoje) mudanças contínuas de fundo (espaço) e congelamentos de imagem (tempo) que soam ao espectador como golpes da memória, fotografias inesquecíveis, manchas indeléveis no psiquismo. Em Ritual in Transfigured Time a protagonista procura se livrar de um homem dançarino (Frank Westbrook) correndo. Mas este, que não corre senão dançando num balé que parece deveras irreal, alcança sempre o seu caminho como um destino.
A fruição dos objetos artísticos a partir do século XX exige uma percepção que nem sempre estamos dispostos a experimentar - embora já centenária -, livre das tentativas de interpretação lógica que nos são naturais enquanto espécie supostamente pensante. Obras como Ritual in Transfigured Time, de Maya Deren, espraiam-se pelas profundezas da (in)consciência e nos pedem, gentilmente, um fechar dos olhos, ainda que precisemos estar de olhos bem abertos para a imagem. Só assim, sonhando, nos é possível confrontar os seus enigmas, suas relações desconcertantes, os mitos que, afinal de contas, estão na origem da obra de arte e, por que não dizer, da própria condição humana.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
A segunda letra - por Giovanna Guterres
“Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez”. Caio Fernando Abreu
“Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar”.Caio Fernando Abreu
“Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão”. Caio Fernando Abreu
“Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora”. Caio Fernando Abreu
“Não, você não sabe, você não sabe como tentei me interessar pelo desinteressantíssimo” Caio Fernando Abreu
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Jogo da Democracia - por Evandro Rocha
O frio da madrugada era cortante.A multidão na Praça do Congresso em Buenos Aires, aguardava ansiosamente.A espera parecia não ter fim.De repente,veio o sufrágio:o Congresso Argentino acabara de aprovar a lei que autoriza a união civil entre pessoas do mesmo sexo,um marco histórico na América Latina.A multidão que ali aguardava,comemorou .Foi como um gol da seleção argentina comandada por Maradona na copa do mundo.Aplausos,abraços,lágrimas de emoção e felicidade aqueceram os corpos gelados pelo frio de centenas de integrantes da comunidade gay que celebraram na praça até o raiar do sol. Os argentinos são conhecidos pelo seu jeito arrogante de ser,rivalidade futebolística à parte,esta opinião não é exclusiva,basta perguntar a um uruguaio, chileno ou a qualquer latino que tenha um mínimo de contato com a cultura argentina e, facilmente se constata que compartilham da mesma premissa.Entretanto,com a decisão de oficializar o casamento gay,a Argentina nos dá uma grande lição de democracia e de respeito aos direitos humanos.Aqui no Brasil,tal matéria ainda suscita acaloradas discussões e, arrasta-se no Congresso Nacional brasileiro,desde 1995, o projeto de autoria da deputada Marta Suplicy,que disciplina a união civil entre pessoas do mesmo sexo e dá outras providências.Tal fato, não reconhecendo devido direito,nos coloca em uma posição incômoda em relação a países que levam a sério os anseios de seus cidadãos.Os empecilhos para a aprovação da lei, são os mais variados possíveis,revelando o falso conservadorismo de um povo que guarda resquícios de uma herança discriminatória e opressora de um tempo que não mais existe e de uma instituição eclesiástica que ainda parece estar na Idade Média.Os tempos mudaram,as pessoas evoluem,a sociedade é dinâmica.Hoje as posturas radicais são contestadas porque induzem ao retrocesso.Visões distorcidas da realidade quando condicionam grande parte dos cidadãos a conclusões divergentes do que realmente é nosso cotidiano,ocultam o reconhecimento de determinados direitos que são condição imprescindível para uma sociedade mais plural e autodeterminante. O filósofo Kant,definiu como imperativo categórico,o princípio pelo qual,deve-se agir sempre baseado naqueles princípios que se deseja ver aplicados universalmente. Ou seja,façam para os outros o que gostaria que todos fizessem para todos.Com relação a questões de gênero não é diferente, trata-se da aceitação de uma realidade imputada a todos os cidadãos do mundo.Quanto aos argentinos,no jogo da democracia e do respeito aos direitos humanos,1 a 0 para eles.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
A segunda letra - por Giovanna Guterres
Só Gabriel García Márquez para escrever sobre um tema que poderia ser considerado pesado, fútil ou leviano, de forma tão lírica e singela que serve como pano de fundo para uma reflexão sobre o quanto inusitada é a vida e o valor que devemos dar a cada segundo. É um romance de celebração a vida, o que só contribui para reafirmar seu prêmio Nobel de Literatura de 1982. Uma belíssima história contada perto do ponto final, sem nenhuma mágoa por estar acabando.
MEMÓRIA DE MINHAS PUTAS TRISTES
GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
2004
21ª Ed.
127 p.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
A segunda letra - por Giovanna Guterres
SEDA, é considerado o maior sucesso editorial do autor; a narrativa desliza com o olhar do protagonista. O texto é preciso, quase cede à poesia. Baricco dispensa o diálogo, esta história ainda que feita de muitas vozes, funciona, não como um monólogo, mas como a soma de vários deles. Indo da primeira a terceira pessoa, o romancista sai de um território onírico de vozes quase fantasmagóricas.
SEDA
BARICCO, ALESSANDRO
COMPANHIA DAS LETRAS
119p.
2008
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Teatro de Quinta - Por Biagio Pecorelli (be.)
O poeta Manoel de Barros, com seu Menino do Mato, me disse certo dia espantosamente, quando eu estava no ônibus: “Pra meu gosto a palavra não precisa significar — é só entoar.” Seria demais extrair deste poema algo de artaudiano, dado que o poeta matogrossense, com absoluta certeza, não se referia em nada ao Teatro da Crueldade, nem a nenhum outro teatro, quando revelou o seu encantamento pela palavra. Mas se o melhor da linguagem poética é extorquir o poema de si, sem que com isso firamos necessariamente a sua essência — ao contrário, realizamos a essência do poema ao incompreendê-lo completamente — aqui vou eu.
De fato, há pouco a se dizer da crueldade (conceito caríssimo a Artaud) em um poeta tão belamente pueril e doce como Manoel de Barros, do mesmo modo como me parece forçoso extrair candura de um homem atordoado como Artaud, de onde partiram versos como “Onde cheira a merda / cheira a ser.” Quando este concluiu a sua principal obra “O teatro e seu duplo” (Le Théâtre et son Double), em 1935, na França, Manoel de Barros ainda nem lançara, aqui no Brasil, o seu livro de estreia “Poemas concebidos sem pecado”, que é de 1937. Mas o meu espanto com o verso que deu origem a este artigo é porque ele revela como o ator e diretor francês e o poeta brasileiro frequentam a mesma atmosfera de encantamento pela palavra enquanto fenda, abismo de sentidos. Em ambos, a arte não pode deixar de ser epifania e por isso atacam, cada qual do seu jeito, o racionalismo que dominou não só o teatro, mas também a literatura durante o século XIX, e que, ainda hoje, a despeito de todas as vanguardas e pós-vanguardas que se proliferaram no século XX, permanece em voga, ao menos no mainstream da literatura mais vendida e do teatro comercial. Tal encantamento aparece, tanto em Artaud quanto em Manoel de Barros, como um insistente chamado mítico e uma profunda relação com o divino e com a natureza (ritual e primitivismo).
Mas o que é o Teatro da Crueldade senão a poesia crua no corpo do ator? Enganam-se os que acham que Artaud era contra a palavra. Seu ataque se dirigia à palavra enquanto locus da razão, a palavra enquanto discurso, o texto enquanto origem e destinamento do teatro. O teatro, para Antonin Artaud, deveria ser o teatro e sua profunda sacralidade, para que mais? Se há palavra, que ela também esteja a serviço desta tarefa maior, que é a de provocar “abalos sísmicos no ser”. Manoel de Barros, que nada tem de cruel nem de ator, possui, em seu Menino do Mato, a surpreendente capacidade de provocar esses mesmos abalos, só que usando a força de sua meninice, de suas “ignorãnças” e das de Bernardo, e de tudo que “desvê” em pedras, passarinhos, pedaços de formigas e moscas no chão. “Lugar mais bonito de um passarinho ficar é a palavra” — diz Manoel. Logo também não é qualquer palavra que atrai o olhar do Menino do Mato, mas só as “palavras de ave”.
Na perspectiva do Teatro da Crueldade (que deveras é de um irracionalismo linguístico muito mais radical que o de Manoel), a palavra jamais estará condicionada ao discurso. A voz configura som, antes de palavra, e deve, enquanto som, tomar todo o corpo do ator cruel, como uma peste que o inflama. Trata-se, de fato, de um verdadeiro “atletismo afetivo”, não como um processo biomecânico frio, mas como um ritual de presença dos atores consigo mesmos, com os deuses e com o púbico. Eis, certamente, o mais desafiador no Teatro da Crueldade: essa presença que não é apenas técnica, e ousaria dizer que pouco tem que ver com técnica, sendo antes de mais nada transcendência. Uma verdadeira combustão física e psicológica do ator para o infinito, quando, em sacrifício, se oferece aos leões do palco. Aos que não têm coragem para tanto, aconselho uma tranquila e encantadora leitura de Menino do Mato, do poeta Manoel de Barros, o que já está de bom tamanho.
***
Autor: Manoel de Barros
Gênero: Poesia.
Valor aproximado: R$ 20,90 (novo)
Autor: Antonin Artaud
Gênero: Teatro.
Valor aproximado: R$ 42,50 (novo)
terça-feira, 6 de julho de 2010
Programação completa do FIG 2010.
Nesta edição, o FIG homenageia os 50 anos do Movimento de Cultura Popular, que, de 1960 a 1964, durante o governo de Miguel Arraes e Pelópidas Silveira, revolucionou o sistema de educação e alfabetização do Estado por meio da articulação cultural. A expectativa da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), que realiza o evento em parceria com a Prefeitura de Garanhuns, é de que mais de 400 mil pessoas circulem na cidade durante os 10 dias do evento.
Confira a programação:
Esplanada Guadalajara
PALCO GUADALAJARA
Parque Ruber van der Linden
PALCO INSTRUMENTAL
Av. Santo Antônio
PÓLO CULTURA POPULAR
TEATRO DE RUA
Parque Euclides Dourado
PALCO POP
PALCO FORRÓ
TEATRO PARA INFÂNCIA E JUVENTUDE
CIRCO
DANÇA
Teatro Luiz Souto Dourado
TEATRO ADULTO
MÚSICA ERUDITA
MOSTRA DE CINEMA
segunda-feira, 5 de julho de 2010
A segunda letra - por Giovanna Guterres
“...adoro homens. Gosto de estar com eles, e não conheço homem feio. Todos são bonitos...”;
“...adoro falar o que penso; ...”;
“... a terceira coisa que eu prezo muito, talvez a que mais prezo, aliás. É a liberdade. Liberdade de pensar diferente, de vestir diferente de se comportar diferente...”
segunda-feira, 21 de junho de 2010
A Segunda letra - por Giovanna Guterres
EU SOU O MENSAGEIRO, escrito pelo mesmo autor de A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, Markus Zusak demonstra a competência de um cara jovem, apenas 35 anos, que nasceu para escrever. Uma marca registrada em seus livros é a sensibilidade e a ingenuidade a qual ele insere na personalidade dos seus personagens. Como leitora desses dois livros, senti uma certa melancolia por querer que a história se prolongasse por mais umas 300 páginas de tão íntima que me tornei deles.
EU SOU O MENSAGEIRO
ZUSAK, MARKUS
1ª Ed.
1975
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Teatro de Quinta - por Sidmar Gienette
Há algum tempo atrás li o livro Caos – Terrorismo Poéticos e Outros Crimes. Nele, Hakim Bey (pseudônimo de alguém de quem esqueci o nome), não trata exatamente de teatro, mas lança propostas que me fizeram buscar diversão em apedrejar igrejas e vestir calcinhas nas estátuas. É dele a teoria de terrorismo poético que justificava esses atos. Mais do que isso, a leitura desse livro me levou a ter mais amor pela vida de modo geral, me inspirou num momento de vazio e esclareceu diversos pontos nas fronteiras inexistentes do universo da arte. Mais ainda que isso, foi nele em que eu encontrei a resposta para algumas certezas internas quais; a certeza de que o tipo de governo ideal para um estado de anarquia é a monarquia e; a crença de que toda arte visa ser poesia. Fora isso tudo, Bey, o qual considero o último visionário da arte libertária, lança conceitos práticos sobre arte-sabotagem, arte como crime e arte e feitiçaria, amor louco e anarquismo ontológico, entre tantas outras coisas na narrativa encantatória daquelas palavras. Aqui vou postando somente um trecho, o qual se aproxima um pouco do tema do teatro. Mas como “a arte morreu e o público desapareceu”, não temos a arte no seu sentido mercadológico, nem o teatro no seu sentido opulento de sala de espetáculos, mas no plano mítico de sua função no mundo, a da dança que anima o cosmos. O livro completo pode ser Ctrl-C + Ctrl-V pro seu editor de texto no site: CMI Brasil - Caos - Terrorismo Poético...
I. São do Apocalipse: “Teatro Secreto”
Conquanto nenhum Stalin fungue em nossos pescoços, por que não fazer alguma arte a serviço de...
uma insurreição? Não importa se é “impossível”. O que mais devemos aspirar atingir senão o “impossível”? Devemos esperar que outras pessoas revelem nossos verdadeiros desejos?
Se a arte morreu, ou o público desapareceu, então nos encontramos livres de dois pesos mortos. Em potencial, todos nós somos algum tipo de artista - & potencialmente todo público recuperou sua inocência, sua capacidade de tornar-se a arte que experiência.
Podemos agora contemplar ações estéticas que possuam um pouco da ressonância do terrorismo (ou“crueldade”, como definiu Artaud) & cujo objetivo é destruir as abstrações em vez de destruir as pessoas, a libertação em vez do poder, o prazer em lugar do lucro, a alegria & não o medo.
“Terrorismo Poético.” As imagens que escolhemos têm a potência da escuridão – mas todas as imagens são máscaras, & por trás dessas máscaras existem energias que podemos direcionar para a luz & o prazer. Por exemplo, o homem que inventou o aikido era um samurai que se tornou pacifista & se recusou a lutar pelo imperialismo japonês. Ele acabou virando um eremita, vivia numa montanha sentado sob uma árvore. Um dia, um ex-colega samurai foi visitá-lo & acusou-o de traição, covardia etc. O eremita não disse nada, apenas continuou sentado - & então o soldado, irado, puxou sua espada & atacou-o. Espontaneamente, o mestre desarmado tomou a espada do soldado & devolveu-a em seguida. Várias vezes o soldado tentou matá-lo, usando todos os golpes mais sutis de seu repertório – mas a partir de sua mente vazia o eremita inventava, todas as vezes, novas maneiras de desramá-lo. O soldado, é claro, tornou-se seu primeiro discípulo. Mais tarde, eles aprenderam a esquivar-se de balas.
Podemos contemplar alguma forma de metadrama criado para capturar um pouco do sabor dessa
atuação, que deu origem a uma arte totalmente nova, um modo totalmente não violento de luta – guerra sem assassinato – “a espada da vida”, & não a da morte.
Uma conspiração de artistas, anônima como qualquer bombardeador maluco, mas voltada para um ato de generosidade gratuita no lugar da violência – para o milênio em vez de para o apocalipse – ou, ainda, dedicado ao momento. A arte conta maravilhosas mentiras que se tornam realidade. É possível criar um TEATRO SECRETO onde o artista quanto a audiência desaparecem completamente – apenas para reaparecer em outro plano, onde a vida & a arte se tornam a mesma coisa, puro oferecimento das dádivas?
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Curta no Quarto - por Alex Guterres
Mauro Shampoo, cabelereiro e ex-jogador de futebol, ficou famoso por jogar no Ibis Sport Club conhecido como o Pior Time de Futebol do Mundo.
O filme mostrar a inacreditável odisséia do pior time do mundo e de seu maior craque: um cabeleireiro. Conheça o homem que tem um coração de ouro, uma tesoura de aço e uma perna de pau!
Gênero:Documentário
Ano:2005
Duração:20 min
Cor:Colorido
Bitola:Vídeo
País:Brasil
Local de Produção: RJ
Diretor:Leonardo Cunha Lima, Paulo Henrique Fontenelle
terça-feira, 8 de junho de 2010
Música antes da Quarta - por Zeca Viana
Tive a rara oportunidade de trocar uma breve idéia com o Arnaldo Baptista, conhecido como "O Mutante que cuspiu na cara da morte". A priori quis direcionar essa entrevista para os fãs da comunidade no Orkut, mas acho que ela deve ser direcionada para todos que admiram sua obra, assim como eu.
Gostaria muito de agradecer ao Arnaldo e a Lucinha, muita luz e paz.
Ah, sim, existem desenhos do Arnaldo sendo vendidos na loja do site: http://www.arnaldobaptista.com.br/loja.htm
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Zeca: Como você relaciona amor, arte e vida na sua obra?
Arnaldo: Verdade; alcance e desafios.
Zeca: O que você pensa sobre religião?
Arnaldo: Exoterismo originou-se de êxodo (para fora). Adoração dos Deuses. Portanto prefiro o Endoterismo; Endo é interior, de dentro para fora.
Zeca: A gente bem sabe como é difícil viver de arte no Brasil. Mas na verdade, talvez a arte fosse uma boa saída para as diferenças sociais...
Arnaldo: É a parte na qual a arte vira uma filosofia (Panis et Circencis); então os artistas são políticos (Proibido Proibir). Seria possível com líderes psicodélicos: (P. D. A. Partido Democrata Ateu). UTOPIA.
Zeca: Emergindo da ciência: isso me lembra seu livro de ficção "Rebelde Entre os Rebeldes", como você pensa no conhecimento científico...
Arnaldo: Penso no conhecimento científico, no quanto ele deveria combater o fôgo e direcionar-se à ultrapassar a velocidade da luz e para fazer uma humanidade mais feliz.
Zeca: O filme Loki é muito sincero, causa uma grande comoção, como você vê os planos presentes e os futuros no seu trabalho?
Arnaldo: Concentrarei-me em fazer shows com os equipamentos que gosto: instrumentos Gibson e amplificadores valvulados. E trabalhar com empresários de verdade, para não acontecer igual à (revira)volta dos Mutantes.
Zeca: Gostaria de te agradecer por essa breve conversa, fique a vontade...
Arnaldo: Privacidade suficiente, felicidade somente.
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Mais sobre Zeca Viana:
Alguns sons: www.myspace.com/zecaviana
Desenhos e fotos: www.flickr.com/photos/zecaviana
Vídeo-arte/clipe: www.youtube.com/zecavianatv
Blog: http://zeca-viana.blogspot.com/
segunda-feira, 7 de junho de 2010
A segunda letra - por Giovanna Guterres
Alemanha, 1939, Hitler e seus discursos convincentes. Judeus sendo jogados para campos de concentração... E a Morte.
A morte de plantão. Ela neste romance é a que fala conosco, é a que narra os acontecimentos e se lamenta de seu destino, de seu trabalho árduo em ter que carregar tantas almas. A Morte: A vilã que alivia as dores de corpos doloridos, mentes desiludidas e estômagos vazios.
Em todo esse contexto de guerra, bombas, céu escuro, neve e muita fome uma menina sonha, ama e sorri. Liesel Memimger. Ela também tem cicatrizes da guerra. A falta da mãe e a morte do irmão. Mas há um sonho. O sonho de descobrir através das palavras um novo mundo. Um mundo onde a guerra não pode roubar-lhe a alegria. Um mundo apaixonante que a faz encontrar a verdadeira razão de viver e de dividir seus encantos com os que já estão massacrados pela dor, pelo medo e pelas perdas ocasionadas pela guerra. Os livros roubados por Liesel Memimger.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Sexta Cênica - Por Gilberto Trindade
Posso perguntar e ao mesmo tempo afirmar ou afirmar e perguntar, o quanto nossos desejos, paixões, manias, dúvidas... Transcendem ao que vemos, ouvimos, sentimos, cheiramos e se aglutinarmos a cultura, a psicologia, o meio, a energia...
O artista e sua gama de saberes quando realiza suas proezas, encanta o público instantaneamente e leva-os também aos sonhos durante noites e anos.
No filme de 1967, As Sete Faces do Dr. Laó temos como exemplo da pergunta e resposta. A ficção se passa numa pequena cidade do Velho Oeste, e tem como conflito um grande fazendeiro tentando comprar toda a cidade sabendo que passará uma estrada de ferro dando-lhe muito lucro, neste ensejo chega à cidade um oriental, magrinho, com bigodes, barbas brancas e trajes típicos, em um pequeno jumento e um aquário na promessa de levar em sua empanada, diversão para todos daquela pequena comunidade.
O pequeno oriental observa o comportamento de todos num fórum de negociação para a venda das casas, à medida que prega seu cartaz nos principais pontos da cidade, mostrando todo seu repertório de atrações. Chegada a noite da estréia, com muitos fogos jogados ao céu como pedras pelo próprio oriental, os moradores chegam em seus cavalos, charretes, a pé e de carro, consumindo pipoca, refrigerantes, balas e balões.
Depois de saudar a todos, cada cidadão (que tem características estereotipadas) se encaminha para as tendas que a princípio se identificavam, (pois no circo do Dr. Laó existem tendas temáticas). A primeira a entrar na tenda de vidência é a solteirona e fofoqueira, também a mais rechonchuda, muito empolgada senta à mesa, paga logo a gorjeta e pergunta se um antigo namorado vai voltar para o casamento (falando sem parar e já convicta da resposta). Com muita calma o oráculo responde que ela terminará os dias só, sem namorados e filhos, sua reação é de repugnação, xingando-o, de charlatão, quando esta sai do recinto, Dr. Laó caminha para outra tenda.
A viúva, jovem e bonita mãe de um pequeno menino, trancou-se para o mundo depois da morte do marido, é assediada pelo jornalista da cidade, (do qual é o antagonista do fazendeiro sempre criticando-o em seu jornal, sendo perseguido por este). Sua própria sogra (residente na mesma casa), aconselha-a a casar-se com ele. Na frente da tenda tem uma placa, Deus Pan, coberta, quando a moça entra, a placa é descoberta. Num jardim começa a soar uma melodia, entre as plantas uma figura mitológica tocando flauta (metade gente da cintura para cima com chifres e carneiro para baixo), a música muda de ritmo, a figura circula em seu entorno rápido como a música, a viúva começa a suar, retira a gola do pescoço e quando o flautim se coloca cara a cara, ela vê o rosto do jornalista que a beija, esta sai correndo atordoada, Dr. Laó ainda com a flauta na mão vai para a outra tenda.
O fazendeiro dono da cidade entra na tenda da grande serpente que se assemelha muito com ele, os dois se olham e começa um diálogo tosco, onde a imagem do dono da cidade é denegrida pelo animal, olhando dos lados para ver se alguém escuta todos os adjetivos ditos, os dois dividem cumplicidades, inclusive a serpente fuma o charuto do fazendeiro, este se vê envolvido pelo animal e pede socorro aos seus capangas que tentam atirar no animal e o patrão pede que não a machuque. O dono da cidade e a serpente ficam desconfiados e seguem seus caminhos.
A medusa olha sob um espelho (uma bela mulher com seus cabelos em forma de cobra) a todos que lhe observam, sob a narração do Dr. Laó, descreve-se que ao olhar para este ser de frente, torna-se pedra. Duvidando disto e maltratando seu marido, prática constante, a senhora mais mau humorada da cidade se põe de frente a mulher dos cabelos de cobra, imediatamente seu corpo torna-se pedra, apesar do espanto de todos, há uma acomodação dos espectadores que partem para outro local de visita, só quem se compadece é o marido que fica a lamentar e pedir ajuda.
No pequeno palco à italiana, com direito a cortina vermelha, Dr. Laó apresenta o grande mágico Merlim de muitas centenas de anos. O velho mágico apresenta alguns truques que não agradam muito a sua platéia a não ser o menino, filho da viúva, que se diverte muito, o bêbado (como em toda a cidade não pode faltar) pede que saia um coelho da cartola, Merlim, até por uma caduquice, tira outros objetos, o público se afasta indignado, o menino fica a consolar o mágico. O marido da senhora antipática pede ajuda a Merlim que a faz voltar ao seu estado normal, detalhe, ela volta mais amável para os braços dele.
A noite de atrações acaba, não sem antes o abominável homem das cavernas circular pelo público, causando espanto e medo. No dia seguinte como despedida da estada da empanada de Dr. Laó, é exibida uma projeção melodramática em que os personagens são bem parecidos com os da cidade, inclusive o cínico (vilão) está querendo expulsar a todos para ganhar dinheiro. A platéia fica atenta à situação real que a cidade passa, terminado o filme a trupe de Dr. Laó se despede com um desfile de todos os artistas na arena principal.
Na madrugada os capangas do fazendeiro tomam uma grande quantidade de uísque e vão fazer arruaça na empanada do velho oriental. Um deles dá um tiro no aquário, o peixe cai no chão e começa a transformar-se num enorme monstro, com sete pescoços e cabeças. Os capangas atiram contra ele, o que é inútil, tentar matar um animal daquele tamanho com revólver, saem correndo, depois de bordoadas do animal. Dr. Laó sai do seu trailer, depois que o menino (filho da viúva) vai chamá-lo, com muita luta o Dr. acha a máquina de fazer chuver, coisa que há anos não acontecia na cidade, o mostro começa a diminuir, não sem antes nas suas sete cabeças aparecer sete faces do Dr. Laó que são os integrandes do circo do velho oriental.
O menino pede para seguir viagem com Dr. Laó, este poeticamente, alerta que a vida é um grande circo e o menino crescerá nesse picadeiro trazendo a pureza e alegria para a perpetuação deste espetáculo, onde tudo é uma hipérbole como a vida (nossas vidas), num jogo de verdade e mentira, ilusão, jogo de espelhos.
Dr. Laó segue o caminho dos cannion desérticos americanos em seu jumento, com aquário e peixinho, a cidade e seus habitantes vão ficando para trás, mas sem dúvida não mais como os de outrora.
Obs: Qualquer semelhança com alguém ou algum fato da vida real é mera coincidência.
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(Gilberto Trindade – Sociólogo pela Universidade Católica de Pernambuco, Pós Graduado em História da Arte e Religião, Pesquisador, Ator/Circense)
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Curta no Quarto - por Alex Guterres
Cinco balas. Cinco pontos de vista deferentes sobre o mesmo momento. Bala perdida, do diretor carioca Victor Lopes é um belo exemplo de como usar o som no cinema pra situar o espectador na trama. O filme se destaca também pelo ótimo roteiro e pelo elenco, repleto de caras conhecidas dos noveleiros de plantão.
Cuidado com o tiro!
Bala Perdida
Gênero: Ficção
Diretor: Victor Lopes
Ano: 2003
Duração: 14 min
Cor: Colorido
Bitola: 35mm
País: Brasil
Local de Produção: RJ
terça-feira, 1 de junho de 2010
Música antes da Quarta - por Anna Andrade
Tudo bem. Não causam a mesma histeria. Não possuem a mesma popularidade, nem o mesmo apelo pop e nem a mesma atenção da mídia de massa. E não é neste ponto mesmo que reside a comparação. Assim, se há alguma banda neste mundo que contribui tanto para a Música quanto os Beatles um dia contribuíram, esta é o Radiohead.
E não é preciso falar o quanto os tempos são diferentes. Hoje, diante do acesso à infinidade de profusões culturais mundo afora, o meio se torna cada vez mais competitivo. É cada vez mais difícil chamar a atenção, se destacar, mesmo onde se produza mais novidade. Hoje, uma boa novidade de talento pode não sobreviver, simplesmente pela dificuldade de se estabelecer em terreno tão fértil, do qual brotam novos semi-deuses a cada esquina. Cada novo lançamento é uma nova promessa. E o que chamo de lançamento não é mais um grupo engomadinho impulsionado por qualquer gravadora, mas, por exemplo, uma jóia que se ache nos garimpos no mundo do MP3.
A mídia atual é tão volátil quanto o surgimento dessas novidades, e confirmar talento, fôlego e reinvenção em tempos como estes é tarefa nunca antes enfrentada. E isso o Radiohead vem fazendo com louvor. A cada novo passo na carreira, surpresas. Eles vêm confirmando as profecias que sempre os acompanharam. Seja revolucionando o modo como um artista consagrado disponibiliza novos trabalhos, seja mostrando que o palco é o melhor lugar para materializar a Arte sonora, o Radiohead se impõe como pioneiro. De minha leiga opinião, creio que existe uma coisa muito importante no meio musical: a moral do artista. Hoje, tal palavra está banalizada. Qualquer sucesso radiofônico que se repita 300 vezes ao dia pode ser taxado como proveniente de um artista. A qualidade não é tão relevante e o consumo, como todo bom mercado capitalista, dita as regras. A mídia musical tornou-se uma fornalha de talentos vendáveis, de marcas que pulam dentro de estilos caricatos e geram riqueza.
Viver de música em tal celeiro é uma tarefa árdua. A não ser que se conquiste a moral. Onde quer que vá, o Radiohead leva consigo o rótulo justíssimo de talento proveniente do esforço artístico, e não apenas como um mero fenômeno de mercado. A banda parece ter noção exata do que representa para o cenário musical do MUNDO (!) e da legião de admiradores e reconhecedores de seu trabalho nos diversos meios: fãs, jornalistas, críticos musicais, admiradores da boa música, etc.
Ademais, o Radiohead vence quaisquer tentativa de encaixe de segmento. É rock demais para o eletrônico; Pop demais para o Rock; Indie demais para o Pop, e por aí vai. Radiohead, assim como Beatles, reinventou uma nova classificação. Não se qualifica perfeitamente em nenhuma prateleira; trafega pelas prateleiras a cada album, a cada faixa. Album: Radiohead parece conhecer por inteiro o que significa tal palavra. Algo com início, meio e fim, como qualquer obra de Arte, dotada de um significado que por menos uniformidade que possua, confira a possibilidade de se extrair algum entendimento.
Trata-se de uma banda 'sui generis', distante de qualquer imitação, acima de qualquer crítica pejorativa. Radiohead, assim como os Beatles, tem MORAL. Uma banda que traz em seu nome um selo de qualidade, fazendo de suas músicas hinos exemplares de trabalho a ficar para a posteridade. A música que deles hoje escuto ecoará nos ouvidos de incontáveis gerações futuras, não tenho dúvidas. E seu trabalho já está sedimentado como um dos mais notáveis desta breve História da Humanidade.
*Se John Lennon ainda fosse vivo, talvez ele olhasse para Tom Yorke sem precisar pedir que ele se levante.*
E se o mundo, hoje, tivesse apenas um rádio, este tocaria Radiohead.
Anna Andrade
@annaandrade
segunda-feira, 31 de maio de 2010
A segunda letra - por Clara Arôxa
Desamores é um nó na garganta, aquele choro preso de histórias que não se concluíram. As dúvidas que não somem na mesa do bar e nem naquela cama desconhecida. É “como se estivéssemos largado a torneira aberta. Por dias. ”, segundo o autor. Ana é, no final das contas, uma pergunta sem resposta. Caio é uma esperança que não desce tão macio goela abaixo. Bárbara é um futuro irritante. Júlia é uma ferida daquelas que latejam sem hora pra terminar. Bruno é um medo. Danilo a bagagem que sempre está por perto. De repente, todos os sentimentos se misturam e, a cada novo capítulo, ninguém sai alheio ao vazio. O tão temido vazio que invade os seres que desejam não ser tão humanos.
Baszczyn consegue, ao longo da leitura, prezar pela simplicidade dos fatos, da linguagem. Não há metáforas geniais, nem descobertas de estética. Apenas a terrível simplicidade dos fatos, a noção exata do desencontro – em todas as instâncias. Irritam os diálogos de Ana e Bárbara, a fragilidade emocional alheia, as atitudes impensadas dos relacionamentos, o pause que é impossível dar na vida. Irrita como é possível adentrar no meio das páginas e dizer: se eu tivesse feito aquilo, se tivesse dado aquele beijo. Irritam as lembranças que se embaraçam as letras. No final, sobram os desamores.
A leitura é rápida, algumas horas, sem interrupção é o que o livro te toma. Sair imune a ele é difícil. No mais, garçon, a conta, por favor.
Eduardo Baszczyn é jornalista, mora em São Paulo e escreve no blog Coisas da Gaveta.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Teatro de Quinta - por Sidmar Gianette
(Para ler escutando David Bowie da década de 60)
Conforme prometi na semana passada para meus leitores e para Giordano, autor da peça, o assunto desta quinta é “Um Torto”, peça apresentada como projeto paralelo do Grupo Magiluth na programação do Festival Palco Giratório. Segundo as palavras do próprio autor, esta peça não é classificada como um drama ou uma comédia (embora alcance pontos dos dois gêneros), mas sim como reality show. O que isso significa? Quer dizer que boa parte do que se vê e se ouve no espetáculo é real, ou um real maquiado, como nos BBB's. É Giordano Bruno expondo para a platéia seu coração brega de luzinhas vermelhas piscando, seus gostos e sua maneira de ser, de interpretar as coisas do mundo, assumindo suas imaturidades, seu romantismo, sua espontaneidade, seu inacabamento e sua vontade de viver. Isso pode parecer a alguns como uma porção egocêntrica do artista, e é, mas também não é só isso. O que vi no SESC de Santo Amaro semana passada foi um dos melhores exemplos do que mais creio como convincente num ator em cena, uma exposição dilacerante, um matar ou morrer de si mesmo, remontando àquele papel do ator cristão na Arena Romana, lutando por si mesmo por sua própria vida contra os leões esfomeados que o cercam. A platéia nesse caso são os leões, que durante a hora e pouca na qual o espetáculo se desenrola, vai sendo domada por vários fatores, sejam alguns aspectos que soam inovadores na peça, seja a narrativa bem construída e entrecortada, ou pelo time perfeito de cena, ou simplesmente por se reconhecer e compartilhar, e compadecer-se com alguns aspectos da angústia pessoal do ator. “Um Torto” tem seu tema no amor, nos relacionamentos amorosos, ou melhor, na sensação que fica com o fim destes. Talvez quem não tenha passado por este momento na vida, o da separação dolorosa e consciência do fim de planos feitos a dois e o retorno à condição de existência solitária, não se comova em nada com a peça, apesar deste ser um tema também bastante explorado por folhetins melodramáticos das seis ou das oito. Mas o que garante que o intérprete dessa peça ultrapasse essa categoria de melodrama para criar com o público uma relação de cumplicidade, é principalmente a maneira como ele compartilha objetos comuns, aqueles restos de poemas, músicas e presentes que retomam a presença do ser amado no fim de uma relação. Exemplificando melhor, o que pode trazer você para a mão de Giordano durante a peça pode ser, a canção de David Bowie cantada sem sentido, mas que faz todo o sentido na sua vida, o fato de você também gostar de sexo quando acorda, ou de escovar os dentes e tomar água gelada, ou de você também ter uma mãe que não te entende mas que te apóia, ou qualquer outra bobagem de nossas vidas que ganha um sentido ampliado quando exposto no palco. Talvez no meu caso tenha sido Starman do Bowie, ou o fato de já ter pedido muitas vezes perdão a uma namorada por algo que eu tenha feito bêbado, e não ter sido perdoado, pode ter sido a Dory de “Procurando Nemo”, mas de qualquer maneira, a peça me pegou, e a boa parte da platéia presente, pela sensação de partilha de várias coisas que compõe o modo de ser e de amar da nossa geração.
Este primeiro ponto diz como podemos pegar coisas do nosso cotidiano e transformá-las em símbolos universais que garantem à peça uma comunicação com todos. Mas outros fatores também chamam a atenção na montagem. Quando se chega ao teatro, o ator encontra-se bem tranqüilo, ele mesmo conversando com a platéia, distribuindo balões vermelhos que serão utilizados em algum momento da peça. Isto já assegura uma promessa de interação com o público que marca o espetáculo. Mesmo que essa interação não se desenvolva a pontos extremos, por opção do autor, garante já aquela idéia de cumplicidade apresentada no primeiro parágrafo. Outra coisa que parte desta interatividade e que transforma o espetáculo é a divisão do espaço. O palco é dividido em 5 áreas que denotam sentido à cena. São os espaços caracterizados como dentro, fora, coração, cover e espaço de exposição. O que acontece é que essas áreas estão desenhadas no chão, mas não definidas como tal, sendo acordadas com a platéia antes do início do espetáculo e demarcadas por objetos simples que as caracterizam: uma placa de saída no espaço de fora, o dito coração de plástico com pisca-pisca vermelho no espaço coração, um cubo de baixo, o microfone e o setlist no espaço cover e assim por diante. Conforme a platéia vai dizendo, aqui, ali, ou acolá, o intérprete vai organizando o palco. Isso garante de certa forma o frescor e a espontaneidade que a peça precisa para funcionar, dado que o ator não sabe de início para onde deve se locomover durante a representação. Parece em certos momentos improvisado, que Giordano vai descobrindo para onde deve ir de acordo com a evolução de seus sentimentos e sua capacidade de expor os mesmos. Dá um ar à peça de que qualquer coisa pode acontecer, e que se o hipócrita cretino que está em cena quiser abandonar o palco e for para o camarim porque não agüenta mais aquela situação, pode acontecer. Mas não é. O trabalho é muito bem ensaiado e apresentado com muita propriedade e segurança. A dramaturgia chama a atenção pela maneira como é construída de passagens soltas e que vão se juntando para formar a trama que nos envolve. Mas pessoalmente, o ponto alto da peça é a já dita, capacidade de dilaceramento próprio que o autor nos demonstra. Giordano parte da futilidade banal quase cômica do nosso dia-a-dia até pontos de desespero e angústia que nos levam até a chorar no fim do espetáculo. É a chamada crueldade do teatro que nos é apresentada neste ponto. Como Artaud nos chamando a um teatro que expõe o “paroxismo dos pestilentos que não aguentam mais a dor de viver e se jogam nas fogueiras da cidade”. No caso dessa peça, é o do ser humano que precisa expor seus sentimentos para o mundo, por mais frágil e indefeso que vá ficar depois disso. É uma necessidade que comunga com a necessidade de grandes artistas como Van Gogh e o próprio Artaud de criar independentemente de como sua sociedade julga suas obras, de criar porque é a motriz que os mantém vivos. E é nessa necessidade de si mesmo que Giordano abre seu coração e o entrega a nós, e faz com que nos sintamos iguais ao fim do espetáculo, de alma lavada, porque no tempo do espetáculo assumimos que nosso egoísmo é em parte o que nos une, o que nos dá graça e o que garante que nossas vidas não sejam uma linha reta, mas uma linha torta e bem tramada. Expõe-nos a necessidade de viver como um romance, de errar e continuar errando, contanto que sejamos sinceros com nós mesmos e com o mundo.
Se você não estava lá, e não está naquela fase terrível de depressão que sucede o fim de um relacionamento, ou se está, mas de repente não tem medo de sentir vontade de se matar, assista “Um Torto” no Centro Cultural dos Correios, antes do dia dos namorados e antes da copa, nos dias 28, 29 e 30 de maio e 4, 5 e 6 de junho, ás 19 horas, e sinta que você não está só no mundo com seus discos de Chico Buarque e do Los Hermanos.
Serviço
Um Torto
Centro Cultural dos Correios - Recife Antigo
de 28/05 a 06/06
Sextas e Sábados às 20h
Domingos às 19h
Ingressos: 12 reais (inteira) / 6 reais (meia entrada)
Mais Informações: 8799-7942
www.grupomagiluth.com.br
www.grupomagiluth.blogspot.com
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Curta no Quarto às Quartas - por Alex Guterres
O curta Conceição é uma das primeiras experiências cinematográficas do já consagrado diretor pernambucano Heitor Dhalia (O cheiro do ralo). O roteiro é baseado num conto do meu querido professor Wilson Freire e tem no elenco figuras clássicas da cidade, como Roger, Aramis trindade e o Cláudio Assis, que é bem mais conhecido como o diretor de filmes como Amarelo manga e Baixio das bestas. Conceição é a cara do Recife e é um dos curtas que ajudaram a concretizar o novo estilo pernambucano de fazer cinema. Se é Árido Movie ou não, aí já é outra história.
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CONCEIÇÃO
Gênero: Ficção
Diretor: Heitor Dhalia, Renato Ciasca
Ano: 1999
Duração: 17 min
Cor: Colorido
Bitola: 35mm
País: Brasil
Local de Produção: PE
Elenco Aramis Trindade, Cláudio Assis, Magdale Alves, Mônica Pantoja
terça-feira, 25 de maio de 2010
Música antes da Quarta - por Zeca Viana
Ele está na ativa com disco novo, acabou de assinar novamente com a Som Livre, tá com site novo também, agenda de shows cheia (quem estiver aqui em Sampa é só se ligar na programação do bar Brahma no centro) e com sua produtora Coaxo do Sapo produzindo bastante. Pedro Arantes, seu filho, é produtor musical, e juntos eles vêm desenvolvendo um trabalho de formação mesmo, de uma nova forma de encarar o mercado brasileiro.
Então é isso, queria agradecer ao Pedro Arantes pela parceria ideológica e ao Guilherme Arantes pela oportunidade. Com vocês Guilherme Arantes!
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Qual a tua memória musical mais remota?
Do Ray Charles, cantando "I Can´t Stop Lovin´You" e da Celly Campello cantando "Banho de Lua". Também de meu pai, grande médico e músico amador, que tocava muito bem violão, cavaquinho e bandolim, de ouvido...
E o Moto Perpétuo, do que você lembra?
O Moto Perpétuo foi uma banda antológica, de grandes músicos, que eu tenho um orgulho imenso de ter sido mais que um membro, mas o líder. É um trabalho a ser retomado, a qualquer tempo, pois é atemporal.
Beatles foi uma grande influência pra você, quais outras bandas você curte?
O Captain Beyond é a maior delas - talvez a banda mais fantástica que jamais existiu, formada por ex-membros do Iron Butterfly ( o baixista , Lee Dorman ), do Deep Purple ( o primeiro vocalista Rod Evans ) e mais os guitarristas Rhino e especialmente o gênio Larry Reinhardt, sem falar no baterista inigualável Bobby Caldwell, um capítulo à parte... .
Nunca houve nada igual. Ponto final. O resto, é o resto.
Nunca obteve êxito, principalmente por ser banda californiana, numa cena totalmente dominada por britânicos. Aliás, a Inglaterra, ilha-mãe, também uma abominável-ilha-de-veados, foi autora das maiores injustiças com artistas fora-do-circuitinho-fashion que eles habilmente criaram.
Claro que adoro o Led, o Who, o Purple, o AC/DC, mas também o Dire Straits, todos os progressivos Yes, ELP, Le Orme (italiano), Faces/Rod Stewart, Gentle Giant, Donovan (muito Donovan !!!!), T-Rex , e tudo o mais que tenha órgão Hammond (Gainsbourg, Procol Harum, Aphrodite´s Child, etc..)
E essa loucura dos anos 80...
Ainda é uma loucura, quase inadministrável, mas enfim, para quem não é? Vamos em frente... Sem nos vender...
Como tá a música brasileira hoje, os novos artistas, as novas bandas, essa coisa toda...
Está uma bosta, pra falar a verdade, não sabem mais fazer hits. Nem mesmo fazer o mercado sabem mais. Só tem mulheres, que eram tabu, pois se antes só tinha sapatões e agora só tem divas-filhas-de-granfinos. Uma monotonia geral. Uma chatice. Ninguém estoura. Tudo meia-bomba que não vende porra nenhuma....
Vamos em breve fazer parte de mudar isso, quem sabe uma das maiores molas propulsoras...
Como é o lance da Coaxo do Sapo?
Olha, quero ser, no mínimo, um Aloysio de Oliveira, um Midani.
Só não quero assinar músicas que eu não compús, como certo produtor (o maior de todos) do Pop brasil, faz....
Guilherme, valeu pela breve conversa. Só para finalizar, o que você espera daqui pra frente nessa tua trajetória?
Espero deixar uma marca muito maior do que a minha fama, como cantor/compositor!
As pessoas ainda vão entender o que eu quero dizer!
Não nasci pra ser pequeno, e quero conhecer gente assim...
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