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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Negritude exercida - Por Evandro Rocha

Negros de todas as raças : uni-vos !

No dia 20 de julho, realizou-se no Recife, a plenária do Orçamento Participativo de negros e negras. O público presente escolheu, através de votação, as políticas públicas que serão implementadas a partir do ano que vem. Dentre as prioridades eleitas, as principais são: a realização de um curso sobre história da África e da cultura negra afro-brasileira para todos os funcionários da rede municipal de ensino, o fortalecimento da política municipal de promoção da igualdade racial e a garantia de segurança e estrutura na entrega de oferendas, em locais públicos, pelas religiões de matriz africana. Todavia, esta iniciativa é muito bem vinda, embora bastante tardia. Há tempos, a população negra clama por mais espaço na sociedade, pelo reconhecimento da suas origens e respeito aos seus cultos religiosos. Darcy Ribeiro, um dos maiores intelectuais que este país já produziu, afirma em seu livro: O povo brasileiro, que desde os primórdios da civilização brasileira, o negro teve um papel cultural mais passivo do que ativo, porém crucial. Tanto na mão-de-obra, como na mistura racial e cultural brasileira em suas cores mais fortes. De fato, das matrizes étnicas (europeia, indígena e africana) que moldaram o povo brasileiro, a mais oprimida foi a africana, pois os negros foram introduzidos na condição de escravos por pura falta de mão-de-obra, já que, a escravidão indígena não prosperou por causa de questões culturais. Esses fatores contribuíram para que os africanos fossem inseridos nas lavouras brasileiras, sendo obtida através do tráfico negreiro proveniente das colônias portuguesas na África. Antes disso, porém, transações envolvendo escravos africanos já ocorriam no Brasil, sendo a falta de mão-de-obra um dos principais argumentos dos produtores rurais. Capturados nas mais diversas situações, como nas guerras entre tribos rivais e na escravidão por dívidas, os escravos africanos vinham de lugares como Angola e Guiné. Eram negociados com os traficantes africanos (ironicamente, negros também) em troca de produtos como armas, fumo e as mais diversas espécies de quinquilharias e eram transportados em navios denominados negreiros. Durante as viagens, muitos escravos não sobreviviam em decorrência das péssimas condições sanitárias existentes no interior dos navios, que vinham abarrotados de gente. Quando chegavam em terras brasileiras, os escravos africanos eram negociados em praça pública. Os mais fortes e saudáveis tinha mais valor. O tráfico negreiro foi extremamente lucrativo e durou até o fim do século XIX. Nesse período houve muita pressão pela abolição da escravatura e o Brasil foi o último país a abolir o sistema escravista. Porém, o fim da escravidão, apesar de trazer a liberdade, não mudou em nada as condições sociais e econômicas dos negros, que continuaram a viver, de uma forma geral, em condições precárias, sem acesso a educação e sendo discriminados. Não impediu também que a exploração de mão-de-obra em regime de escravidão e o tráfico de pessoas continuassem sendo praticados até hoje. Diante dos fatos, nada mais justo que ações como as que estão sendo implementadas pela atual gestão do Orçamento Participativo da Prefeitura do Recife. Visando promover o direito dos negros de fazerem parte de uma nossa sociedade multicultural, multirracial e justa. Resgatando a sua cidadania perdida, protegendo seus cultos e liturgias, informando sobre sua origem e prioritariamente promovendo a tão sonhada igualdade racial.

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