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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A segunda letra - por Giovanna Guterres

SUGESTÕES PARA ATRAVESSAR AGOSTO
Caio Fernando Abreu

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé.
Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau;
Fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às regras lendas deste mês de cachorro louco.

É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data.

Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente.

Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos.
São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições.

Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade.

Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon.

Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente que isso também passará.

Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.

Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo.
Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós.

Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro, ou justamente, agosto.

Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos ou precauções – úteis a todos.

O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade...

Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Um comentário:

  1. Dizem que agosto é os mês dos agouros.Não concordo.Pois,foi justamente nesse mês que recebí um dos maiores tesouros que a vida pode me dar:uma filha!.Quanto a figura do FHC,realmente é pior do que gato preto!vixe!!!

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