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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Teatro de Quinta - por Sidmar Gienette

Introduzindo Hakim Bey...


Há algum tempo atrás li o livro Caos – Terrorismo Poéticos e Outros Crimes. Nele, Hakim Bey (pseudônimo de alguém de quem esqueci o nome), não trata exatamente de teatro, mas lança propostas que me fizeram buscar diversão em apedrejar igrejas e vestir calcinhas nas estátuas. É dele a teoria de terrorismo poético que justificava esses atos. Mais do que isso, a leitura desse livro me levou a ter mais amor pela vida de modo geral, me inspirou num momento de vazio e esclareceu diversos pontos nas fronteiras inexistentes do universo da arte. Mais ainda que isso, foi nele em que eu encontrei a resposta para algumas certezas internas quais; a certeza de que o tipo de governo ideal para um estado de anarquia é a monarquia e; a crença de que toda arte visa ser poesia. Fora isso tudo, Bey, o qual considero o último visionário da arte libertária, lança conceitos práticos sobre arte-sabotagem, arte como crime e arte e feitiçaria, amor louco e anarquismo ontológico, entre tantas outras coisas na narrativa encantatória daquelas palavras. Aqui vou postando somente um trecho, o qual se aproxima um pouco do tema do teatro. Mas como “a arte morreu e o público desapareceu”, não temos a arte no seu sentido mercadológico, nem o teatro no seu sentido opulento de sala de espetáculos, mas no plano mítico de sua função no mundo, a da dança que anima o cosmos. O livro completo pode ser Ctrl-C + Ctrl-V pro seu editor de texto no site: CMI Brasil - Caos - Terrorismo Poético...


I. São do Apocalipse: “Teatro Secreto”

Conquanto nenhum Stalin fungue em nossos pescoços, por que não fazer alguma arte a serviço de...
uma insurreição? Não importa se é “impossível”. O que mais devemos aspirar atingir senão o “impossível”? Devemos esperar que outras pessoas revelem nossos verdadeiros desejos?
Se a arte morreu, ou o público desapareceu, então nos encontramos livres de dois pesos mortos. Em potencial, todos nós somos algum tipo de artista - & potencialmente todo público recuperou sua inocência, sua capacidade de tornar-se a arte que experiência.
Desde que possamos escapar dos museus que carregamos dentro de nós mesmos, desde que conseguimos parar de nos vender ingressos para as galerias que existem dentro de nossos próprios crânios, poderemos começar a contemplar uma arte que recrie o objetivo do feiticeiro: mudar a estrutura da realidade pela manipulação dos símbolos vivos (neste caso, as imagens que nos foram “dadas” pelos organizadores desse salão – assassinato, guerra, fome & ganância).
Podemos agora contemplar ações estéticas que possuam um pouco da ressonância do terrorismo (ou“crueldade”, como definiu Artaud) & cujo objetivo é destruir as abstrações em vez de destruir as pessoas, a libertação em vez do poder, o prazer em lugar do lucro, a alegria & não o medo.
“Terrorismo Poético.” As imagens que escolhemos têm a potência da escuridão – mas todas as imagens são máscaras, & por trás dessas máscaras existem energias que podemos direcionar para a luz & o prazer. Por exemplo, o homem que inventou o aikido era um samurai que se tornou pacifista & se recusou a lutar pelo imperialismo japonês. Ele acabou virando um eremita, vivia numa montanha sentado sob uma árvore. Um dia, um ex-colega samurai foi visitá-lo & acusou-o de traição, covardia etc. O eremita não disse nada, apenas continuou sentado - & então o soldado, irado, puxou sua espada & atacou-o. Espontaneamente, o mestre desarmado tomou a espada do soldado & devolveu-a em seguida. Várias vezes o soldado tentou matá-lo, usando todos os golpes mais sutis de seu repertório – mas a partir de sua mente vazia o eremita inventava, todas as vezes, novas maneiras de desramá-lo. O soldado, é claro, tornou-se seu primeiro discípulo. Mais tarde, eles aprenderam a esquivar-se de balas.
Podemos contemplar alguma forma de metadrama criado para capturar um pouco do sabor dessa
atuação, que deu origem a uma arte totalmente nova, um modo totalmente não violento de luta – guerra sem assassinato – “a espada da vida”, & não a da morte.
Uma conspiração de artistas, anônima como qualquer bombardeador maluco, mas voltada para um ato de generosidade gratuita no lugar da violência – para o milênio em vez de para o apocalipse – ou, ainda, dedicado ao momento. A arte conta maravilhosas mentiras que se tornam realidade. É possível criar um TEATRO SECRETO onde o artista quanto a audiência desaparecem completamente – apenas para reaparecer em outro plano, onde a vida & a arte se tornam a mesma coisa, puro oferecimento das dádivas?

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