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segunda-feira, 19 de julho de 2010

A segunda letra - por Giovanna Guterres

Noventa anos. O personagem dessa obra de Gabriel García Márquez, na véspera de seu aniversário é invadido pela inquietação: Tantos anos vividos sem nunca ter conhecido um sentimento que até então somente tinha ouvido falar: O AMOR. Esse homem decide presentear a si mesmo com uma noite de amor louco com uma ninfeta virgem que exalasse a pureza de nunca ter sido tocada. Ela teria que ser virgem e não apenas mais uma das centenas de mulheres que passaram por sua vida sem horizontes quando ele perambulava de bordel em bordel, dormindo com mulheres descartáveis. A narrativa é ambientada numa cidade colombiana imaginária, numa época que de tão remota parece imemorial. O próprio jornalista é o narrador dessas memórias. Ele junta suas economias oriundas de colunas semanais a um jornal, e de sua aposentaria, para pagar pela virgem. Aos 90 anos de vida pouco espaço resta ao lamento. O sentimento dele para com a menina transforma-se num amor real, mas sem idealizações impossíveis. O nobre jornalista passa a transbordar esse sentimento nos seus escritos, agora apaixonados, mas que antes eram crônicas e resenhas maçantes.
Só Gabriel García Márquez para escrever sobre um tema que poderia ser considerado pesado, fútil ou leviano, de forma tão lírica e singela que serve como pano de fundo para uma reflexão sobre o quanto inusitada é a vida e o valor que devemos dar a cada segundo. É um romance de celebração a vida, o que só contribui para reafirmar seu prêmio Nobel de Literatura de 1982. Uma belíssima história contada perto do ponto final, sem nenhuma mágoa por estar acabando.


MEMÓRIA DE MINHAS PUTAS TRISTES
GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
2004
21ª Ed.
127 p.

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